"Agir, eis a inteligência verdadeira. Serei o que quiser. Mas tenho que querer o que for. O êxito está em ter êxito, e não em ter condições de êxito. Condições de palácio tem qualquer terra larga, mas onde estará o palácio se não o fizerem ali?"
(Fernando Pessoa)


Quem sou eu

Minha foto
Porto Alegre, RS, Brazil
Técnico em edificações formado pelo Centro de Referência em Educação Profissional Parobé em 2012/1. Desenhista técnico na empresa Prisma Topografia. Estudante de Graduação em Artes Visuais pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)

sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Sentidos

No cachorro,
Na criança que mia,
No ranger de dentes,
No cafungar esquecido,
No paladar inaudível,
Na saliva seca socando a carne atravessada,
Nos olhos cegos que se cruzam e não dizem nada,
No breu do dia que a luz não chega,
Escuto o mundo,
Na falta luz .

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Casa na árvore

Tu, velho anduco, de cabelo ralo, esbelta postura franzina, braços cruzados, de costume cansado e nostálgico balbuciador de  lamúrias incompreensíveis, como um cão que rosna para o próprio rabo, decidiste, sabe-se lá o porquê, construir na árvore, uma morada, decidiste, assim, como te decides trocar de gravata naquelas ocasiões em que o conviva já não respira mais.
Em uma pequenina árvore, aquela sequóia, não, não esta, aquela, esta, esta, isso, nessa mesma, a menorzinha, escolheste teu alicerce para edificar tuas incompreensões e  poupar-te o trabalho da escada, cansar-te-ia demais essa escada (tu, velho, gostas de resultados rápidos).
Como todos os outros, aqueles proletários que constroem para poder gozar melhor da vida e deitar as preocupações no consolador da noite (o travesseiro), este velho não o era.
E ao passo da tua escolha começaste a construção, uma betoneira orgânica era a tua cabeça, lembrava-te do presente, passado e futuro ou era o presente do passado futuro que te fazia abrir a boca sem querer e perguntar sem responder?
Perguntas ou respostas sem respostas ou perguntas, findou a morada sobre a pequenina sequóia.
Não precisaste muito esforço para entrar na tua morada, apenas um leve alçar de joelho.
Adormeceste no chão mesmo sem te dar conta das horas a fio em que trabalhaste. Acordaste, ora, ora, sem nenhuma dorzinha. Poste a fuça pra fora da porta, ainda bastava um baixar de joelho para saíres da morada. Não aguentas esperar tanto?
Não. Não aguentou esperar tanto.
Te trancaste na morada até que a pequenina sequóia estivesse em condições de te fazer dar mais que um salto para sair-te daí e contar a todos tua façanha, pequena façanha essa, grande arrogância tua. 
Adormeceste um ano ou dois? Eram mais, velho.
Poste a cabeça para fora depois de tantos anos e tua barba grisalha arrastada no teu assoalho e tuas costas curvas atrapalham-te a caminhada, a barba, parava em cada farpa as costas doíam a cada passo. Poste a cabeça pra fora.
Não vias o chão em que pisaste a última vez, só enxergavas neblina e uns poucos galhos da tua sequóia. Não percebeste, mas dormistes muito tempo. Percebe, meu velho, tu estás mais próximo do céu.